• UM RIO GENEROSO

    por: João Rural

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    No livro “Vale do Paraíba-Velhas Fazendas”, o escritor Sérgio Buarque de Holanda destaca que a tradução mais comum entre os tupinólogos para a palavra ‘Paraíba’ é ‘rio ruim’, mas não há uma definição do motivo que teria originado essa denominação. Ao contrário disso, no entanto, o Paraíba tem sido mais do que generoso com a população estabelecida às suas margens ao longo dos anos; irrigando plantações, movendo indústrias e matando a sede de homens e animais.
    A Bacia do Rio Paraíba do Sul - Bacia hidrográfica é uma divisão espacial cuja delimitação territorial é desenhada pela própria natureza. É uma região delimitada por pontos altos de relevo que ‘encaminham’ a água das chuvas para os pontos mais baixos formando os cursos de água.

    A entrada da água na bacia ocorre por meio das chuvas e dos fluxos de água subterrânea. As saídas são a evaporação, transpiração de plantas e animais e o escoamento de águas superficiais ou subterrâneas. O Brasil está dividido em 12 regiões hidrográficas e a Bacia do Rio Paraíba do Sul está localizada na Região Hidrográfica Atlântico Sudeste, que se destaca no cenário nacional pelo grande número de habitantes e relevância econômica em função da quantidade e variedade de indústrias que abriga. Essa situação, sinaliza um potencial de conflito por apresentar grande demanda hídrica e uma das menores disponibilidades relativas, colocando a água, mais do que nunca, na condição de recurso estratégico.

    O Paraíba do Sul – Com 1.150 quilômetros de extensão, o rio percorre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em março de 2006, uma expedição formada por pesquisadores e ambientalistas comprovou que a nascente do Rio Paraíba do Sul se localiza no município de Areias, a quase dois mil metros de altitude. Anteriormente acreditava-se, que a nascente pertencia ao município de Silveiras. A confusão ocorreu porque a nascente pertence a área de uma fazenda que está na divisa dos dois municípios. É essa nascente, do Ribeirão da Lagoa, que deságua no rio Paraitinga e se transforma em Paraíba do Sul quando encontra o rio Paraibuna, que nasce no município de Cunha.

    O Paraitinga e o Paraibuna se fundem na represa de Paraibuna, no município de mesmo nome. Neste local, a mão do homem mudou o ponto de formação do Paraíba. Durante milênios o Rio Paraitinga desaguava no Paraibuna, no bairro da Barra, cerca de 3 km abaixo da cidade de Paraibuna. Com a construção da represa do Paraitinga, o rio foi totalmente barrado por um paredão de 104 metros, a maior represa de terra do Brasil. Com isso um pequeno morro, próximo ao Bairro Capim D´Angola, foi dinamitado em 1975, fazendo a junção das águas dos dois rios dentro do lago. Este ponto está 12 km acima da cidade. Assim, o trecho do rio que vai desde a represa de Paraibuna, no Bairro do Rio Claro, até o Bairro da Barra, com cerca de 15 km, que até então era o Rio Paraibuna, passou também a denominar-se Rio Paraíba. Nos três estados que atravessa o Paraíba passa por 168 municípios e abastece uma população estimada em 13,5 milhões de pessoas, irriga mais de 60 mil hectares de plantações e é utilizado para produção de energia elétrica. Sua foz é na praia de Atafona, no município de São João da Barra, no Rio de Janeiro. Importância e degradação - O Rio Paraíba foi testemunha e participante das principais eras econômicas do país.

    A região teve destaque no ciclo do café e nos áureos tempos dos tropeiros, que transportavam em suas mulas produtos como algodão, fumo, açúcar, aguardente e até ouro. As margens do Paraíba se prestaram ainda às plantações de arroz, atividade desenvolvida até os dias atuais. A era industrial começou por volta de 1940 trazendo grande desenvolvimento, acentuado ainda mais pela construção da Rodovia Presidente Dutra, que criou um corredor rápido de ligação entre os dois principais centros econômicos e de negócios do Brasil. Atrelados a esses fatores vieram o crescimento da população e do mercado da construção civil. O que tudo isso tem a ver com o Rio Paraíba do Sul?

    As indústrias utilizam a água em larga escala em diversos processos de produção e, até pouco tempo atrás, não havia legislação que obrigasse o tratamento da água antes de ser devolvida ao rio. O mesmo acontece com a água disponibilizada para uso da população e a construção civil depende bastante da areia retirada do leito do rio, que, em alguns pontos quando visto de cima, muito se assemelha a um queijo suíço, que tem os buracos como principal característica. As fontes poluidoras podem ser agrupadas em três tipos principais: • Esgotos domésticos e outros efluentes urbanos; • Efluentes e rejeitos industriais; • Poluição difusa em áreas rurais por agrotóxicos, adubos orgânicos e químicos, etc. Políticas de meio ambiente, ambientalistas e um mercado consumidor melhor informado e mais exigente, dentro e fora do país, são os principais condutores de uma mudança de postura e da revisão dos modelos de desenvolvimento por parte das administrações públicas e empresas. Mas ainda há outras frentes que representam grandes desafios de educação ambiental. Quem é o dono do rio?

    O Rio Paraíba do Sul é seu, do vizinho da esquerda, da direita, da indústria, do agricultor, da geradora de energia elétrica, mas, principalmente, ele é dos filhos de todos nós. E é para essas gerações futuras, que o Paraíba necessita ser recuperado e preservado. Assim, não há como não concordar com a cobrança justa pelo uso de um patrimônio que é de todos, bem como o apoio aos moradores da zona rural, em seus costumes e tradições, pois eles são os guardiões das nascentes. Não há como discordar da necessidade de investir em tratamento das redes coletoras de esgoto.

    É preciso ainda ensinar a dona de casa a não jogar resto de óleo de cozinha no ralo da pia. Todas essas ações têm sua importância, mas uma delas precisa ir para o topo da lista: a recuperação e preservação das nascentes, seja do Rio Paraíba ou de cada pequeno afluente que contribui para torná-lo grandioso. Sem nascentes para alimentar esses cursos d’água não haverá o que plantar, criar ou industrializar. Não será possível viver
    http://www.chaocaipira.org.br/assets/publicacoes/xP1Xe9yN0AT7/ArBS5tKzdWQ0.pdf